Por: Felipe Holanda, Guilherme Batista e Mateus Schuler
Mexe a cadeira. Somente na primeira fase do Campeonato Pernambucano, dez treinadores já deixaram seus respectivos cargos. Tudo isso em pouco mais de dois meses. O destaque negativo foi Alexandre Gallo, que passou 12 dias no comando do Santa Cruz. Dos três grandes, apenas o Náutico de Hélio dos Anjos não trocou de técnico.
Nesta análise, o Pernambutático destrincha as passagens dos comandantes que foram demitidos, com principais movimentações táticas, estilos de jogo, números, e muito mais. A exceção da lista fica por conta do português Daniel Neri, que deixou o Salgueiro, mas não por demissão – foi anunciado como novo comandante do Sampaio Corrêa.
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A PASSAGEM METEÓRICA DE GALLO PELO ARRUDA
Nem no Brasil é comum um técnico assumir e deixar o comando de um time em menos de duas semanas. Foi o que aconteceu com Gallo, que esteve no comando da Cobra Coral em apenas três jogos, com um empate e duas derrotas. Taticamente, o treinador costumava apostar num 4-3-3 tendo a posse de bola, explorando transições rápidas e amplitude pelas bordas do campo.

Defensivamente, Gallo gostava de jogar bem fechado, mas com pouca organização defensiva. Em algumas ocasiões, chegou a formar uma primeira linha de cinco, uma espécie de 5-4-1, como aconteceu na derrota para o Náutico, nos Aflitos, no jogo de estreia do treinador.

Gallo, inclusive, foi bastante criticado diante do Timbu por ter deixado Chiquinho no banco de reservas. O treinador mudou de ideia ainda no primeiro tempo, colocando o camisa 10. Com ele, a equipe passou a jogar melhor e conseguiu diminuir a vantagem alvirrubra, mas mesmo assim amargou o revés.
O último ato de Gallo no Arruda foi com requintes de vexame. Derrota para o Sete de Setembro, então lanterna, com direito a um golaço de Grafite, nos últimos minutos, encobrindo Jordan para selar o 2 x 0 a favor dos setembrinos.
MODELO BRIGATTI POR ÁGUA ABAIXO
Antes de Gallo, João Brigatti já havia deixado o comando do Santa Cruz após início de temporada titubeante. O técnico tentou impor seu modelo de jogo, mas acabou se atrapalhando com as próprias pernas, muito por conta da fragilidade do elenco coral.
Apesar dos encalços, Brigatti largou com o pé direito ao vencer o Vitória por 2 x 0, no Arruda, no jogo de estreia. O treinador, no entanto, não conseguiu engatar uma boa sequência e foi descendo degraus. Formando um 4-2-3-1 no ataque, a equipe tricolor mostrou que era pouco produtiva com a posse e rondava a área adversária sem muita objetividade.

O ponto positivo da passagem de Brigatti pela Cobra Coral foi a única vitória do Mais Querido na Copa do Nordeste, sobre o Fortaleza, no Castelão. Fazendo um jogo inteligente, o time se fechou bem na defesa, explorando um 4-5-1, e foi premiado com um gol de Júnior Sergipano, que garantiu os três pontos.

Brigatti se despediu do comando após derrota por 1 x 0 para o Botafogo-PB na última rodada da primeira fase da Lampions. Em 53 dias de trabalho, foram quatro vitórias, dois empates e sete derrotas, acumulando um aproveitamento de 35,8%.
DOIS INTERINOS, DOIS EFETIVOS NO LEÃO
Ainda com a temporada 2020 rolando, o Sport fez a estreia no Estadual diante do Vera Cruz no 4-3-3 sob o comando interino de Ricardo Severo, do Sub-20. Defensivamente, performou um 4-3-1-2, enquanto ofensivamente fez um 4-1-2-3, com constantes investidas dos laterais. Já contra o Salgueiro, houve uma variação ao 4-2-3-1, que se manteve no ataque e alternou para 4-2-2-2 ao defender; esta foi a única derrota leonina na primeira fase.
Com Jair Ventura, remanescente após permanência na Série A, o time até saiu invicto ao empatar em 1 x 1 frente ao Santa Cruz e vencer o Central por 2 x 0. No clássico, Jair formou um 4-1-4-1, ficando no 4-1-2-3 ao atacar e 4-5-1 na defesa. Ante a Patativa, o 4-2-3-1 voltou a aparecer, mas dessa vez com duas linhas de 4 no sistema defensivo do Leão.

A demissão de Ventura culminou em novo técnico assumindo interinamente: César Lucena, auxiliar da comissão. A estreia do ex-zagueiro rubro-negro foi com o Afogados, em empate sem gols, e o mesmo sistema de antes: uma trinca para dar suporte ao centroavante. Dessa, vez, no entanto, o meio-campo formou um triângulo, tendo dois volantes e Thiago Neves isolado na armação, desenhando um 4-2-1-3 e 4-4-2 ao defender.
Ante Vitória e Sete de Setembro, a postura defensiva voltou a se repetir, porém voltando ao 4-1-2-3 no ataque com intenso apoio dos laterais. Já no ataque, o que pôde ser observado foi uma espécie de 4-3-3 dos leoninos contra o Sete.

Já sob a batuta de Umberto Louzer, diante de Retrô e Náutico, o 4-2-3-1 foi mantido. Frente à Fênix, ainda houve leve alternância ao 4-1-4-1 no setor ofensivo, já as duas linhas voltaram a ser a tônica na defesa. Contra o Timbu, teve variação para 4-1-2-3 ao atacar e 4-4-1-1 defendendo.
ROTATIVIDADE CENTRALINA
Responsável por quase 50% das trocas de treinadores no Estado, o Central vive um ano de mais baixos do que altos. A Patativa começou a temporada com Nenê Vanucci no comando, mas o treinador sequer disputou uma partida oficial. Isso porque três dias antes do início do estadual ele entregou o cargo alegando que teria recebido uma proposta melhor.
Desta forma, Catende foi o bombeiro e iniciou o ano do clube caruaruense. Na primeira partida, diante do Náutico, o que se viu foi um Central completamente desorganizado, frágil e com um nível assustador. Foi atropelado pelo Timbu por 5 x 0 numa exibição que mais parecia jogo treino. Diante do Santa, o treinador corrigiu a postura e atuando num 4-3-1-2 conseguiu arrancar um ponto e assim entregar o bastão para o próximo comandante.
A chegada de Pedro Manta trouxe esperança ao torcedor centralino. Além da qualidade do treinador, Manta também trouxe jogadores para reforçar o frágil elenco alvinegro. A realidade, no entanto, não foi nada esperançosa. 3 partidas, 2 derrotas e um empate. O treinador optou por um 4-2-2-2, com Junior Lemos e David tentando dar mais criatividade, mas o time ficou exposto e a goleada diante do Retrô selou a demissão do treinador.

Catende voltou a assumir a equipe e comandou o Central diante de Afogados e Vitória das Tabocas, mantendo o 4-2-2-2 de Pedro Manta, mas tentando dar mais intensidade a equipe. Funcionou. Empate contra a Coruja e vitória diante do Taboquito. Ao mesmo tempo, o time anunciou a chegada de Elenilson Santos.
O comandante manteve o padrão tático em sua primeira partida, diante do Vera Cruz, mas o revés de 1 x 0 nos acréscimos da partida selou o destino da Patativa: jogar o quadrangular do rebaixamento. Na última rodada, diante do Salgueiro, o treinador começou a colocar seu dedo no time. Atuando num 5-3-2, que variou também para 3-5-2 e 3-4-3, Elenilson encontrou um modo de dar segurança defensiva e escape ofensivo. Pelo menos por enquanto.

PEDRO MANTA, O ANDARILHO
Da lista dos treinadores que trocaram de clube, Pedro Manta foi uma espécie de andarilho. Só em 2021, foram três times comandados por Manta, sendo dois pernambucanos. Após deixar o Central, o técnico assumiu o Sete de Setembro para tentar uma improvável classificação à segunda fase, que acabou não acontecendo.
Postando no 4-2-3-1 no ataque, Manta conseguiu melhor o desempenho setembrino mesmo com pouco tempo de trabalho. Em quatro jogos, a única vitória foi o supracitado 2 x 0 no Santa Cruz, no Arruda, que culminou com a saída de Gallo.

OS VOOS DA FÊNIX
O Retrô teve um 2021 frustrante no Pernambucano. Comandado por Nilson Corrêa até a penúltima rodada, acabou fora do mata-mata do Estadual. Com Nilson, a equipe mostrou boas qualidades, como transições rápidas da defesa para o ataque, geralmente formando um 4-2-3-1 e explorando passes curtos e médios.

Nilson comandou o Retrô em oito oportunidades. Foram duas vitórias (contra Brusque e Central), um empate e cinco derrotas. Após sua saída, Luizinho Vieira assumiu o comando e até venceu o Vitória por 3 x 0, mas não conseguiu se classificar às quartas de final.
DA SÉRIE D PARA A SÉRIE B
Daniel Neri é o único da lista que deixou o comando em alta. Mostrando organização, apesar da temporada conturbada do Salgueiro, o português levou o time ao mata-mata e foi anunciado como novo treinador do Sampaio Corrêa – o ex-jogador Marcos Tamandaré assumiu o comando do Carcará.
Com Neri, os sertanejos mostraram muitas virtudes, como uma marcação adiantada no campo do adversário para tentar o desarme. Variando entre o 4-1-4-1 e o 4-3-3 na defesa, conseguiu ter um sistema defensivo sólido na medida do possível.

Já no ataque a aposta mais utilizada era um 4-3-3, explorando o jogo apoiado, tendo a participação dos meias, laterais e volantes para infiltrar nas linhas rivais. Pelo Estadual, foram dez gols marcados, sendo nove sob a batuta de Neri.

No Carcará desde 2019, Neri estave à beira do gramado a equipe em 53 oportunidades, acumulando 22 vitórias, 18 empates e 13 derrotas. O português também foi responsável pela maior conquista da história do clube sertanejo, o Campeonato Pernambucano de 2020.
MUDANÇA PARA MELHOR DE UM LADO…
Campeão da Série A-2 em 2020, o Vera Cruz voltou à elite pernambucana após dez anos ausente. Sob o comando de Rômulo Oliveira, iniciou muito mal, perdendo para Náutico e Sport, ambos por 3 x 1; o único ponto ganho foi no clássico com o Vitória em 2 x 2. Nesses três jogos, performou no 4-3-3 como base, que por vezes foi 4-1-2-3 ou repetia a postura com duas trincas ao atacar, enquanto na defesa foi sempre um 4-1-4-1.
A sequência negativa e uma proposta mais vantajosa tiraram Rômulo do cargo, cabendo ao ex-jogador Edson Miolo resgatar as esperanças. E deu certo. Mantendo a postura ofensiva do Galo do Maués, o novo técnico mudou apenas o sistema defensivo, que passou a performar duas linhas de 4 em algumas oportunidades, sendo o 4-2-3-1 utilizado com frequência.

MEXIDA SEM SUCESSO DE OUTRO
Se o lado veracruzense de Vitória de Santo Antão está feliz, os vitorienses não podem dizer o mesmo. Apenas um triunfo, ataque menos positivo e pior defesa: esses foram os destaques negativos do Vitória. A saga começou com derrota para o Santa Cruz, ainda tendo Fernando China à frente da equipe; em três jogos, houve alternância entre o 4-2-2-2 e o 4-2-3-1 no sistema-base, sendo 4-2-1-3 no setor ofensivo e 4-4-2 no defensivo.

Já sob o comando de Laelson Lopes, o 4-2-3-1 passou a ser usado mais frequentemente e duas linhas de 4 ao ficar sem a posse, exceto na goleada sofrida pelo Náutico, quando formou um 3-5-2. Na ocasião, atacou no 3-4-3, enquanto se defendeu no 5-4-1. No revés frente ao Central, Laelson tentou ser ousado ao promover um 4-3-3 mais intenso, tendo o 4-1-4-1 na zona de ataque, porém seguindo no 4-4-2 na defesa.
Além do Náutico, só o Afogados manteve o comando técnico, com Sérgio China levando a Coruja à segunda fase. No mata-mata, os sertanejos enfrentam o Santa Cruz pelas quartas de final, próxima quarta-feira (5), no Arruda. Na outra perna, Salgueiro e Vera Cruz se enfrentam.
Um comentário em “A dança das cadeiras dos treinadores no futebol pernambucano”