Por: Mateus Schuler
Santíssima trindade. Apelidado de padre, Gilmar Dal Pozzo chega ao Sport para sua terceira passagem pelo Trio de Ferro com a missão de abençoar a atual temporada e recolocar o Leão na Série A do Campeonato Brasileiro. Novo comandante rubro-negro assume após saída de Gustavo Florentín, tendo contrato até o final da Segundona — seu último clube foi o Joinville, onde disputou apenas sete jogos.
Nesta análise, o Pernambutático destrincha taticamente as principais características do treinador, com conceitos, modelos de jogo, pontos fortes e fracos, e tudo que se pode esperar da passagem de Dal Pozzo pela Ilha do Retiro.
NÁUTICO 2019-20
Um dos últimos trabalhos de Gilmar Dal Pozzo foi no futebol pernambucano. Gilmar comandou o Náutico entre 2019 e 2020, sua segunda passagem pelo Timbu, conquistando o acesso de maneira épica e, depois, o título da Série C inédito para a equipe. Mesmo sem conseguir ser unanimidade pela torcida, o técnico apresentou múltiplas facetas tanto na fase ofensiva, como defensiva.
Em 42 jogos disputados, os alvirrubros balançaram as redes por 61 vezes, que dá média aproximada de 1,5 gols. Tendo o 4-2-3-1 como sistema tático-base, o time não era tão agressivo, mas em alguns momentos chegou a se impor e apresentou variações que valorizavam os laterais; uma delas foi a formação de um 2-5-3, tendo apenas a dupla de zaga atrás do círculo central.

E é justamente por ter os alas dando amplitude que Dal Pozzo encorpava no setor ofensivo. Com os extremos vindo por dentro, sempre limpando do lado e puxando para o meio, Jean Carlos ficava mais móvel, podendo também ter liberdade para fazer uma transição mais veloz, sendo o principal jogador dos pernambucanos.
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Sem a bola, por outro lado, o mais comum dos alvirrubros era o 4-4-2, tendo justamente o armador próximo ao centroavante, já as peças das beiradas se juntavam aos volantes. Desse modo, tinha o meio-campo até sólido, contudo a entrelinha ficava exposta, com os adversários aproveitando bem a falta de compactação.

Para tentar ceder menos espaços e evitar as infiltrações, a alternativa usada na equipe da Rosa e Silva foi a formação de uma linha de 5. Dessa maneira, haviam constantes alternâncias, ora sendo um 5-4-1 — mais frequente —, ora 5-3-2, pois o primeiro volante revezava com um dos extremos, tendo apenas o articulador mais adiantado para contra-atacar em velocidade.
Por apresentar fragilidades na recomposição, a defesa do Timba foi bastante questionada pelos torcedores, pois a média não conseguiu ser positiva: total de 42 gols sofridos, sendo exatamente um por partida. Foram ainda 12 duelos sem ser vazado, o que equivale a pouco mais de 25% e destaca como o setor era instável.
PARANÁ 2020
Após passagem controversa pelo Timbu, o comandante chegou ao Paraná e teve uma árdua — e não cumprida — missão: impedir o rebaixamento à Série C. Com apenas uma vitória em seis partidas sob o comando dos paranistas, Gilmar tentou implementar parte de sua filosofia, porém o curto período não foi suficiente para obter bom desempenho.
O setor ofensivo demonstrou poucas variações, inclusive com o próprio 4-2-3-1 de base sendo o desenho mais comum. Com um esquema engessado, o Tricolor conquistou somente uma vitória e marcou apenas três gols, contudo nenhum foi marcado por jogador de ataque, confirmando o momento ruim vivido.

O sistema defensivo também foi na mesma toada. Foram sete gols sofridos e novamente tendo muita fragilidade. Mesmo tentando dar maior consistência, o técnico teve como principal característica a variação entre duas linhas de 4 — 4-4-2 e 4-1-4-1 — e uma linha inicial de 5, que já havia feito no comando do Náutico.
Quando enfrentou ataques de mais cadência, se postou no 4-4-2 de blocos médios, facilitando a saída mais veloz ao iniciar o contra-golpe. Já diante de setores ofensivos rápidos, procurou fechar mais o cadeado, entretanto com o mesmo intuito: ter o contra-ataque como arma, ficando assim numa postura reativa.

JOINVILLE 2022
Depois de passar um 2021 inteiro desempregado, em 2022 Dal Pozzo já vai ao segundo clube. Antes de chegar ao Leão, estava no Joinville, brigando contra o rebaixamento no Catarinense. Com um time que mesclou juventude e experiência, manteve o 4-2-3-1 de outrora, no entanto de baixo poder criativo e defesa, como nos trabalhos anteriores, instável e insegura.
Assim como vinha fazendo no Náutico e tentou repetir no Paraná, os laterais davam suporte aos volantes na criação, dando mais liberdade ao meia central. No JEC, quando se impôs, performou num 2-4-4, tendo os dois zagueiros atrás do meio, todavia tendo os blocos fazendo um jogo apoiado, abdicando da ligação direta.

Apesar de fragilizado, o Coelho de Gilmar se postou mais frequentemente no próprio 4-2-3-1 de base. Desse modo, porém, os volantes ficavam afastados dos demais meio-campistas e próximos à primeira linha. Esse espaçamento, inclusive, gerou muitos contra-ataques e infiltrações dos adversários, um dos pontos de maior crítica.
Descompactados, os catarinenses só não tiveram a meta vazada em um dos sete jogos; foi no empate sem gols com o Avaí. Esse é um problema que vem se repetindo e agravando a cada equipe comandada pelo ex-camisa 1, além da bola aérea defensiva não ser eficiente.

QUEM É GILMAR DAL POZZO?
Apesar de catarinense, o ex-goleiro fez maior parte de sua carreira no futebol gaúcho. Formado na base do Caxias, foi campeão estadual em 2000, além de ter marcado um gol durante a Copa do Brasil no mesmo ano, o único como profissional. Gilmar defendeu ainda as cores do Veranópolis, Marítimo-POR, Goiás, Avaí, Joinville e Canoas, bem como o Santa Cruz, sendo vice-campeão frente aos leoninos em 2006 no Pernambucano.
Como técnico, iniciou em 2008, sendo campeão da Copa FGF pelo Pelotas. Passou ainda por Veranópolis e Novo Hamburgo antes de chegar à Chapecoense, em 2012, onde se consagrou. No Verdão do Oeste, conquistou o acesso por dois anos seguidos, tirando o time da Série C e levando à elite nacional, sendo vice-campeão da Segundona para o Palmeiras. Demitido durante o Brasileirão 2014, esteve à frente também de Criciúma, ABC, Paysandu, Ceará, Juventude e Brasil-RS, assim como os citados acima.
E NO SPORT?
Por ter o 4-2-3-1 de base, a tendência é que não deva fazer mudanças significativas nos 11 que estão atuando. Sob o comando interino de César Lucena, o Sport vem atuando no mesmo sistema tático, bem como as variações tem sido próximas. O fato da filosofia não sofrer drásticas alterações pode ser um ponto positivo ao elenco, já que ainda não conseguiu ter uma atuação segura em todos os setores.

Alternando entre 4-1-4-1 e 4-4-2 na fase defensiva, o Leão ainda apresenta falhas, mas ao menos parece ter encontrado um modelo a ser seguido. Como Dal Pozzo já fez um desses desenhos em outros clubes, a tendência é de repetir na Ilha do Retiro, tendo Juba e Jáderson ou Alan abertos, enquanto William Oliveira e Blas fecham o cadeado por dentro; todos à frente dos laterais e zagueiros, porém atrás do meia central e do centroavante.

Arte: MVN Designers