Por: Mateus Schuler
Presente de Natal antecipado. O Santa Cruz confirmou Ranielle Ribeiro como técnico para 2023 buscando evitar correria na montagem do elenco. Nascido na capital potiguar, o novo comandante coral chega com a responsabilidade de conquistar o acesso à Série C.
Nesta análise, o Pernambutático destrincha taticamente as principais características do treinador, com conceitos, modelos de jogo, pontos fortes e fracos, números históricos, e tudo que se pode esperar da passagem de Ranielle pelo Arruda.
SEQUÊNCIA NO NORDESTE
Apesar de uma curta carreira, já que ocupa a função de técnico desde 2018, Ranielle busca usar suas passagens por ABC e Campinense como principais trunfos à frente do Santa Cruz. Em ambos, foi campeão estadual, título que o Mais Querido não conquista desde 2016, tentando dar fim ao incômodo jejum e visando deixar a Série D.
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Em meio a um elenco que vem passando por reformulação após eliminação na Série D, a tendência é que o modelo de jogo usado nos seus últimos times do futebol nordestino seja mantido. Assim, a expectativa gira em torno de um 4-3-3 como tática-base, que é reutilizado também nos momentos sob posse e no ataque.

Tal postura foi vista com mais frequência no ABC, onde comandou entre 2018 e 2019. Nos alvinegros, teve um dos volantes mais fixos durante as transições e os laterais tiveram liberdade para atacar, já outros dois meio-campistas se aproximaram mais do trio ofensivo; este, inclusive, tem os atletas da beirada próximos ao centroavante, dando menos amplitude que os alas.

Pelo Campinense, a variação era mais simples, pois teve também o 4-3-3, no entanto alternado frequentemente ao 4-2-3-1. Dessa maneira, os extremos e o armador se movimentaram bastante, ora indo junto aos cabeças de área, ora ao centroavante. A construção ofensiva, caso mantenha sua proposta do Lagarto, é numa saída de 3, que pode ser ainda 4+1, dependendo do encaixe dos laterais.

CARACTERÍSTICAS DEFENSIVAS
As semelhanças com as características de Marcelo Martelotte e Leston Júnior são mais evidentes em fase defensiva. Sem a bola, as equipes de Ranielle se postam geralmente num 4-5-1, que aconteceu quando esteve no comando do Lagarto em 2020. Nesses casos, os pontas recuam, atuando ao lado dos volantes e do meia, formando a linha de cinco para povoar o meio-campo.

Caso opte pela formação de duas linhas de 4, a tendência é que mantenha a proposta utilizada na Raposa, seu último trabalho. Assim, forma um 4-4-2 que pode variar entre blocos médios e médio/baixos, mas visando o mesmo objetivo: contra-atacar em velocidade, tendo uma postura mais reativa em campo.

A alternativa para variar é performar num 4-1-4-1, conforme foi visto à frente do ABC. Desse modo, as linhas ficam mais adiantadas e os meio-campistas que caem por dentro podem pressionar a saída junto ao centroavante ou se precaverem, se postando ao lado dos extremos; o primeiro volante sustenta o setor, flutuando entrelinhas.

CURRÍCULO
Nascido em Natal, Ranielle Ribeiro surgiu para o mundo da bola no futsal como atleta, atuando por ABC e América-RN, além de ser professor nas escolas da capital potiguar. No futebol, inicialmente foi preparador físico, defendendo o Botafogo-PB no primeiro trabalho profissional, em 2005, sendo convidado por Ferdinando Teixeira.
Tendo Ferdinando como mentor, seguiu ainda por CSA e Ceará antes de ir ao Guamaré, onde garantiu acesso à elite do Rio Grande do Norte na comissão técnica. Em 2016, teve a oportunidade de comandar o Mais Querido de Natal, interinamente, com a saída de Narciso por um jogo, bem como em 2017, mas passou a ser efetivo apenas na temporada seguinte apesar de ser rebaixado à Série C.
Pelos alvinegros, conquistou o Estadual logo no primeiro ano como técnico e a Copa Cidade de Natal de 2019, equivalente ao primeiro turno. Sem voltar à Segundona, foi demitido ainda durante a Terceirona, totalizando 75 partidas no comando da equipe, sendo 38 vitórias, 14 empates e 23 derrotas. Já no Lagarto, foram nove jogos, já que sofreu eliminação na Copa do Brasil ainda na segunda fase e o clube havia sido rebaixado no Sergipano, ficando sem calendário.
Antes do Campinense, teve no Anápolis seu pior desempenho à frente de um time, pois venceu somente uma vez em sete duelos, empatando e perdendo outros três. Na Raposa, foi bicampeão estadual entre 2021 e 2022, além de 67 confrontos disputados; destes, triunfou por 27 oportunidades, empatou 25 e foi derrotado nas 15 restantes. Ainda que tenha conquistado títulos, não teve atuações empolgantes, o que custaram a demissão durante a Série C.
Créditos da arte principal: MVN Designers sobre foto de Samy Oliveira/Campinense